Apologética

I. Apologética. Definição e Objeto

 

I. APOLOGÉTICA. DEFINIÇÃO. OBJETO


1. – Definição: - Etimologicamente, a palavra apologética (do grego “apologéticos”, apologia) significa justificação, defesa. Apologética é, pois, a justificação e defesa da fé católica.

2. – Objeto – A apologética tem dois fins:

a) Justificação da fé católica. Considerando a religião no seu fundamento (isto é, no fato da revelação cristã, de que a Igreja Católica se diz a única depositária fiel), a apologética expõe os motivos de credibilidade que provam a sua existência. Deve portanto resolver este problema: havendo neste mundo tantas religiões, qual será a verdadeira? Ora o apologista católico sustenta que só a sua fé é verdadeira, e que o é na realidade; deve, pois, provar esta asserção. Este primeiro trabalho constitui a apologética demonstrativa ou construtiva.


b) Defesa da fé católica. A apologética não só apresenta os títulos que tornam a Igreja Católica credora da nossa adesão, mas também enfrenta os adversários, respondendo aos seus ataques. E, como os ataques variam com as épocas, segue-se que deve evolucionar e renovar-se incessantemente, pondo de parte as objeções antiquadas e apresentando-se no campo escolhido pelos adversários, para os combates da hora presente. Sob este segundo aspecto, a apologética tem um caráter negativo, e chama-se apologética defensiva.


3 – Corolário. – Apologética e apologia. – Não são termos sinônimos. “Apologética significa propriamente ciência da apologia, do mesmo modo que dogmática significa ciência do dogma. A apologética é a defesa científica do Cristianismo pela exposição das razões em que se apóia. Uma apologia é uma defesa oposta a um ataque” (cf. HETTINGER, Théol. fond. t. I).


O objeto da apologética é, portanto mais geral. A apologia limita-se a defender um ponto da doutrina católica no campo do dogma, da moral, ou da disciplina. Prova, por exemplo, que o mistério da Santíssima Trindade não é absurdo;  que acusar de interesseira a moral cristã é injustiça; que o celibato cristão não é instituição digna de censura, mas rica em vantagens inestimáveis; e chega até a reabilitar a memória de um santo. A apologia remonta às primeiras eras do Cristianismo; a ciência apologética aparece mais, e está sempre em via de formação ou, pelo menos, de aperfeiçoamento.

(fonte: BOULENGER, A. Manual de Apologética. Resumido e Adaptado por G. P. Porto: Livraria Apostolado da Imprensa, 1955. Pgs 6-7).

 

II. Fim e Importância da Apologética

 

4. - Fim - Do objeto da Apologética (no. 2) deduz-se claramente o fim que se propõe.

A. Enquanto demonstrativa, dirige-se não só ao crente, mas também ao indiferente e ao ateu: - a) ao crente para o arraigar nas suas convicções, mostrando-lhe os sólidos fundamentos da sua fé, iluminando-lhe a inteligência e fortificando-lhe a vontade; b) ao indiferente e ao ateu:  ao primeiro, para o convencer da importância da questão religiosa e da sem-razão da indiferença acerca deste assunto; ao segundo, para o arrancar à incredulidade; a ambos, finalmente, para os levar à reflexão, ao estudo e à conversão (I).

B. Enquanto defensiva, a apologética visa só os anticrentes e tem por fim refutar os seus preconceitos e objeções. Dizemos anticrentes e não incrédulos, porque ordinariamente os incrédulos limitam-se a não crer, ao passo que os anticrentes têm uma religião especial, a religião da ciência, da humanidade, da democracia, da solidariedade, etc - que dirigem contra a religião católica.

5. - Importância - A importância da apologética deduz-se destes dois motivos: - a) É o preâmbulo da fé. Lembremo-nos, que a fé exige o concurso da inteligência, da vontade e da graça. Ora, a missão da apologética é levar o homem até ao limiar da fé, torná-la possível, provando que é racional (II). Se considerarmos os fatos, a questão para nós não existe, está resolvida antes da discussão; porque, seja qual for a religião a que pertençamos, todos a recebemos de nosso meio e da nossa educação; veio-nos por intermédio dos nossos pais e dos nossos mestres. Muitos há que a aceitam sem discussão alguma, fundados somente na autoridade. Mas pode chegar um momento, em que a dúvida assalte o espírito, e seja necessário armar a fé contra os ataques inimigos. Não recomendava já S. Pedro aos primeiros cristãos que andassem preparados para dar razão da sua crença quando lha pedissem? (I Ped III, 15). Hoje, ainda mais do que então, devem os católicos conhecer os motivos da sua fé e saber explicá-los aos outros (III).

b) A apologética é a condição necessária da teologia. Com efeito, a exposição da doutrina católica supõe já a fé, e só tem em vista os crentes. Donde se segue que apesar de terem pontos de contato e de se ocuparem igualmente da revelação, diferem contudo no ponto de partida e no desenvolvimento. De fato o apologista, só com o instrumento da razão, eleva-se das criaturas ao criador, a um Deus revelador, e chega ao fato da Igreja docente; ao passo que a teologia segue a ordem inversa: partindo do ponto onde chega a apologética, isto é, do magistério infalível da Igreja, expõe os ensinamentos da fé.

Nota

(I) Ou se dirija aos crentes ou aos incrédulos, a apologética tem sempre em vista levar as almas à certeza do fato da revelação. Ora há muitas escolas filosóficas que negam ao homem a capacidade de atingir a verdade. Será, pois, conveniente, antes de mais nada, resolver o problema da certeza (Vid. cap. prel.)

(II) As provas, que o apologista nos fornece acerca do fato da revelação, devem levar-nos a formar dois juízos: a revelação manifesta-se-nos com evidência objetiva e portanto é digna de crédito (credibilie est), juízo de credibilidade; se é digna de crédito, há obrigação de crer (credendum est), juízo de credendidade. O primeiro é de ordem especulativa, dirige-se só à inteligência; o segundo vai mais longe, atinge a vontade; é um juízo prático.

(III) É bom advertir que não se pode duvidar da fé, embora seja permitido sujeitá-la a exame. Segundo o Concílio do Vaticano I, "os que receberam a fé, pelo magistério da Igreja, nunca podem ter razão suficiente para á abandonar, ou por em dúvida" (Const. Dei Filius, Can. III e Can. VI). Aos que dizem que é preciso fazer primeiro tábua rasa da fé para chegar à verdade, responde Leibniz: "Quando se trata de dar a razão das coisas, a dúvida para nada serve... Que se faça um exame para resolver a dúvida..., passe. Mas que, para examinar, seja necessário começar por duvidar, é isso o que eu nego".

Trecho retirado e adaptado por Alessandro Lima para a língua portuguesa falada no Brasil, a partir de BOULENGER, A. Manual de Apologética. Resumido e Adaptado por G. P. Porto: Livraria Apostolado da Imprensa, 1955. Pgs 7-8.