“Para mim é uma alegria acolher em Santiago o Papa, Peregrino por excelência”

04/11/2010 09:56

Entrevista a Dom Julián Barrio, arcebispo de Santiago de Compostela

 

Por Inma Álvarez 

SANTIAGO DE COMPOSTELA, quinta-feira, 4 de novembro de 2010 (ZENIT.org) – O Papa Bento XVI manifestou em várias ocasiões seu desejo de peregrinar a Santiago de Compostela. O pontífice realiza este desejo quase in extremis, já que depois do Ano Santo de Compostela que termina agora, não haverá outro até 2021.

Para Dom Julián Barrio, arcebispo de Compostela, a chegada do Papa à sua diocese é também um momento especial que ele espera com alegria e para o qual convidou seus fiéis a prepará-lo com jejuns e orações, convencido de que trará “grandes frutos espirituais”.

ZENIT: O que significa para o senhor esta visita do Papa a Santiago, a primeira de um Papa desde que o senhor é arcebispo?

Dom Julián Barrio: Uma sincera gratidão e boas razões para esperar porque estou certo de que os frutos espirituais e pastorais desta peregrinação serão substanciais. É uma alegria acolher como arcebispo e oferecer hospitalidade ao Peregrino por excelência deste Ano Santo, como é o Papa Bento XVI.

Desde que nos comunicou sua vinda a esta Igreja de Santiago de Compostela, o acompanhamos com nossa oração, dando graças a Deus e agradecendo também a disponibilidade e caridade pastoral do Papa que, com tantas preocupações conseguiu um dia para vir até nós.

Para mim, como pastor desta Igreja particular, é muito emotivo que o Sucessor de Pedro, peregrino de todos os caminhos do mundo, venha ao encontro com o Apóstolo Tiago como peregrino. Sem dúvida, de sua presença em nossa comunidade cristã, podemos esperar, sobretudo, a confirmação na fé. Autoriza-nos a isso a própria palavra de Jesus a Simão Pedro: e tu, por tua vez, confirma os teus irmãos.

ZENIT: Por que Santiago é tão importante para a Igreja e para Europa?

Dom Julián Barrio: Santiago de Compostela como meta de peregrinação onde se venera o túmulo do Apóstolo Tiago e faz-se memória da Tradição Apostólica que fundamenta nossa fé, já não é o Finisterre, pois se converteu no final de infinitos caminhos que chegam a esta Cidade do Apóstolo desde todos os confins do Universo.

De maneira especial temos de fazer referência à Igreja na Espanha. O patronato do Apóstolo sobre a Espanha se remonta a tempos muito distantes. Por isso podemos falar de certa maneira que Santiago de Compostela é “a capital eclesial da Espanha”, de maneira especial nos Anos Santos Compostelanos.

Falar de Tiago, o Maior, é falar da fé dos espanhóis. A figura histórica e devocional do Apóstolo, centro da articulação cristã da Espanha, é sempre nossa referência, o temos como “promotor”, “coluna”, “defensor” ou “caudilho” de nossa fé, termos que aparecem nos textos litúrgicos, literários ou populares e que geraram, em tantos séculos, a tradição jacobeia.

A apostolicidade que brota em Compostela deve-se ao esforço evangelizador do Apóstolo Tiago, protomártir entre os apóstolos. É assim como Santiago de Compostela brilha ainda hoje como cabeça da Espanha cristã e quiçá da hispanidade inteira, abrindo seu raio de influência acima e mais além da geografia espanhola ou hispânica, como o demonstra o fluxo constante de peregrinos. Note-se que Dante Alighieri deixou escrito que a peregrinação a Santiago “é a mais maravilhosa peregrinação que um cristão pode fazer antes de morrer”.

Mas além dessa dimensão de hispanidade, temos de nos referir ao próprio europeísmo. Goethe se atreveu a assegurar que “a Europa nasceu peregrinando ao redor da memória de Tiago”.

Há 28 anos atrás, em novembro de 1982, o Papa João Paulo II, na própria catedral compostelana, denunciou com nobreza e não sem dor a crise que afetava a consciência cristã da Europa. Em suas palavras ele instava e chamava a Europa a despertar, a renovar suas raízes, a recuperar sua genuína identidade cristã.

Bento XVI também conhece muito bem a situação histórica atual da Europa e sabe o que significou o Caminho de Santiago, a Peregrinação Jacobeia e o Túmulo do Apóstolo Tiago na construção da civilização europeia. Diante da perda de sentido da herança e dos critérios cristãos, uma realidade que envolve a perda daquelas referências teológicas e antropológicas cristãs encontramos em Compostela a Tradição apostólica graças ao esforço evangelizador do Apóstolo Tiago, “amigo do Senhor”.

Neste sentido, a história e o carisma jacobeu são uma plataforma única e comprovada para enraizar-nos nessa nova evangelização que espera e reclama a Igreja.

ZENIT: Desde a famosa visita de João Paulo II em 1989 até agora o que mudou em Santiago? Aumentou o número de peregrinos?

Dom Julián Barrio: Como comentava antes, Santiago de Compostela se tornou uma referência significativa da peregrinação tripla sagrada e histórica composta também por Jerusalém e Roma. É evidente o aumento relevante de peregrinos. Hoje podemos dizer que nos visitam peregrinos dos cinco continentes.

ZENIT: Bento XVI tinha muito interesse em visitar Santiago. Alguma vez ele lhe manifestou pessoalmente este desejo?

Dom Julián Barrio: Tive oportunidade de falar com ele quando era Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé e depois de ter sido eleito sucessor de Pedro. Nas diferentes ocasiões quando lhe fiz os convites para vir a Santiago ele acolheu com muita benevolência. Me disseram que no passado Ano Santo Compostelano de 2004 ele tinha previsto vir, mas não pôde. Agora, o Senhor lhe concedeu esse desejo.

ZENIT: a Igreja na Galícia acolherá com alegria o Papa? Como se vive nas paróquias essa visita?

Dom Julián Barrio: Tenho certeza que será assim. A cidade do Apóstolo, a diocese compostelana e Galícia esperam com alegria a peregrinação do Papa. Desde o momento que soubemos em nossa diocese que o Papa viria a Santiago, o acompanhamos de maneira especial com nossa oração.

Temos tratado que este acontecimento tenha repercussão na pastoral diocesana. Preparamos materiais que estão ajudando na reflexão e formação catequética, orientados as crianças, jovens e adultos. Com este mesmo objetivo tanto na Catedral como em todas as paróquias, nos seminários diocesanos e nas casas religiosas estamos celebrando um ato eucarístico uma vez por semana.

Pedi em uma carta pastoral aos diocesanos que no mês de outubro se rezasse o Santo Rosário pedindo especialmente os frutos espirituais e pastorais desta Peregrinação e tendo muito presentes as intenções do Papa.

Por outra parte e com o objetivo de uma preparação imediata, manifestei o desejo de que no dia 5 de novembro os diocesanos tenhamos um dia de jejum, oferecendo uma contribuição econômica à Cáritas diocesana para que com o arrecadado se possa ajudar as pessoas mais necessitadas. De qualquer maneira, a Igreja na Galícia espera o Papa com gratidão e afeto filial.

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