Cardeal equatoriano: vermelho de nossa batina recorda o amor

23/11/2010 14:05

Entrevista com o cardeal Raúl Eduardo Vela Chiriboga

 

CIDADE DO VATICANO, novembro de 2010 (ZENIT.org) – Dom Raúl Eduardo Vela Chiriboga encontrava-se em retiro espiritual, após ter renunciado à arquidiocese de Quito por limite de idade, quando soube que Bento XVI o havia convocado para integrar o Colégio Cardinalício.

“Temos de estar dispostos a dar a vida pelo bem da Igreja”, disse o cardeal de 76 nesta entrevista que concedeu a ZENIT.

ZENIT: Sua primeira missão episcopal foi como bispo auxiliar de Guayaquil. Como foi?

Cardeal Vela: Quando fui nomeado bispo pelo Papa Paulo VI, em 1972, havia 4 anos trabalhava como secretário da Conferência Episcopal Equatoriana, e segui exercendo ambas funções, tarefas compatíveis, mas um pouco pesadas. Agradeço ao Senhor por ter tido como mestre pastoral e espiritual o cardeal Bernanrdino Echavarría (1912 - 2000), um bispo de longa trajetória pastoral, que foi o segundo arcebispo de Guayaquil. Sobretudo no serviço aos mais necessitados e no espírito de oração que sabia transmitir a todos seus colaboradores.

ZENIT: Depois o senhor foi bispo de Azogues...

Cardeal Vela: Ali estive durante 14 anos. Era uma diocese pobre e nova, eu era o segundo bispo. Havia muitos irmão indígenas. Pude trabalhar no aspecto espiritual, que é o fundamental para minha tarefa, mas também no aspecto promocional e social. 

ZENIT: Por que disse que era necessário purificar a religiosidade popular nessa diocese?

Cardeal Vela: Porque às vezes, a religiosidade popular, se não a purificamos, vai assumindo certas coisinhas que não são nem doutrinal, nem pastoral, nem dogmaticamente de acordo com a fé de nossos antepassados. Então vem certa confusão, certo dualismo, que se gostaria de introduzir, que não tem nada a ver com um sadio e reto sentido religioso, que se põe em relação com Deus.

ZENIT: Em seguida o senhor passou a arcebispo castrense...

Cardeal Vela: Uma experiência também maravilhosa durante 14 anos. Às vezes, as pessoas podem perguntar: por que um bispo em meio aos militares, que teoricamente são pessoas treinadas para matar, para resguardar a ordem à base da violência, talvez com o uso das armas? Creio que passou com eles uma grata experiência. Muito aprendi deles do sentido de honestidade, de retidão, de serviço aos demais. Sobretudo me interessou o campo da família do militar, porque é um dos grandes perigos que tem, porque nem sempre estão comprometidos a viver juntos, dado o traslado de um lugar para outro. Também foi um campo muito bom para o cultivo das relações humanas, buscando a dignidade de todos, desde os mais altos militares até os soldados mais simples.

ZENIT: E a experiência como arcebispo de Quito?

Cardeal Vela: Não foi fácil. Eu dizia ao Senhor: “confio em ti”. Era uma diocese grande, complexa. Tive o apoio dos bispos auxiliares, da Santa Sé, de meus sacerdotes e minhas comunidades, sobretudo no aspecto da oração.

ZENIT: A vida política do Equador não é tão simples. Três golpes de estado entre 1997 e 2005. Como o senhor viveu esses momentos, primeiro como arcebispo castrense e depois como primaz do Equador?

Cardeal Vela: Pude descobrir quão complexa é a vida política! Uma pessoa que vai dirigir uma nação deve ser um estadista sereno, tranquilo, porque os assuntos se apresentam tão de repente e tão seguidos durante o dia que podem assustar qualquer um.

Há que saber conviver e combinar os desejos de um povo que estão referidos só ao bem comum. Mas quando o bem comum se deixa de lado, começa o conflito, surgem as diferenças, as discrepâncias e a divisão dentro do povo. Isso é muito doloroso.

Na América Latina estamos muito atentos para lutar por todos os meios para dialogar. Não podemos viver só da briga diária. O diálogo é uma arte. Não podemos pensar que minha ideia tem de vigorar de todos os modos. Quando vamos ao diálogo, devemos procurar ir desarmados.

ZENIT: Como cardeal, ao que vai se dedicar agora?

Cardeal Vela: Vamos ver o que diz o Santo Padre. Formo parte do Colégio Cardinalício, que como bem o diz o Código de Direito Canônico, somos os escolhidos pelo Santo Padre para o conselho, a ajuda, a visão da problemática em âmbito universal. Espero que o Senhor me inspire e dê graças. É ali quando alguém se sente pequeno e um pouco necessitado da luz para a palavra oportuna, a discrição necessária e sobretudo o testemunho. Como sabe, agora na batina levaremos a cor vermelha. Recorda-nos o sangue, também o amor.

(Carmen Elena Villa)

ZP10112301 - 23-11-2010
Permalink: https://www.zenit.org/article-26613?l=portuguese

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