Por Jesús Colina
CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 6 de outubro de 2010 (ZENIT.org) - A Igreja está aprendendo a fazer das controvérsias midiáticas oportunidades para transmitir a mensagem do Evangelho, segundo constataram alguns dos máximos representantes de obras comunicativas católicas.
Para isso, são necessárias a credibilidade e a transparência, afirmou ontem o Pe. Federico Lombardi, SJ, diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, ao intervir diante dos 230 profissionais e especialistas de 83 países que participam do congresso mundial da imprensa católica, convocado pelo Conselho Pontifício para as Comunicações Sociais.
O Pe. Lombardi, conhecido comumente como porta-voz da Santa Sé, em sua intervenção reconheceu que as reações violentas que às vezes se dão contra a Igreja na mídia são compreensíveis, pois a mensagem cristã vai "contra a corrente do mundo secularizado" e, além disso, é "inerme", pois a Igreja não tem muitos meios para se defender.
Mas não houve apenas ataques e crises comunicativas nestes anos; a Santa Sé teve também grandes êxitos comunicativos, como as viagens de Bento XVI ao Reino Unido, à França, aos Estados Unidos, além do extraordinário acolhimento midiático recebido pela encíclica Caritas in veritate.
Para que as crises se convertam em oportunidades, o Pe. Lombardi, que também é diretor da Rádio Vaticano e do Centro Televisivo Vaticano, considerou necessária, por parte da Igreja, "credibilidade e transparência".
No que se refere à "credibilidade da pessoa", explicou, "no caso dos últimos papas, é muito visível", como demonstram "a fé e a coerência valente dos seus posicionamentos, a total ausência de busca de consenso para si mesmos".
Bento XVI, acrescentou o porta-voz, demonstrou "a capacidade de expor-se em primeira pessoa diante das controvérsias", como se vê nas cartas enviadas aos bispos do mundo inteiro após o levantamento da excomunhão de bispos tradicionalistas seguidores de Dom Marcel Lefebvre, e o caso Williamson, assim como a carta aos católicos irlandeses, após a crise suscitada por casos de abusos sexuais.
Dessa forma, no caso do Papa Joseph Ratzinger, "a relação com as pessoas e seu estilo estão assumindo um peso crescente, também neste pontificado".
Segundo Lombardi, o caso dos abusos sexuais oferece, em segundo lugar, o desafio da transparência na Igreja.
"Houve uma grande perda de confiança na Igreja, em parte justificada, em parte causada pela apresentação negativa e parcial dos problemas; mas este dano, como diz o Papa, pode ser compensado por um bem, se seguirmos a direção da purificação profunda e da renovação, de forma que possamos superar esta ferida de maneira estável."
Agora é preciso "lealdade para ver e enfrentar os problemas morais da instituição".
O porta-voz não aplicou esta lição apenas à questão dos abusos sexuais, mas também, em geral, à dimensão econômico-administrativa: "Acho que, entre os escândalos diante dos quais a opinião pública é mais sensível hoje em dia, estão os do sexo e o do dinheiro".
"Uma Igreja confiável diante do mundo é uma Igreja pobre e honesta no uso dos bens, capaz de prestar contas deste uso, integrada de maneira leal na rede das relações econômicas e financeiras, sem nada a esconder."
"Estou seguro quanto às retas intenções dos responsáveis pelas instituições econômicas vaticanas, mas ainda é preciso percorrer um caminho para ser totalmente capazes de convencer eficazmente a opinião pública com os instrumentos habituais de comunicação, de maneira transparente e convincente, sobre a correção das finalidades e das operações que são realizadas. E o que eu digo sobre o Vaticano se aplica também a todos os níveis da Igreja e das nossas comunidades", concluiu o porta-voz.
Para o diretor do L'Osservatore Romano, Giovanni Maria Vian, a resposta às controvérsias "é difícil devido a uma escassa atenção à informação e à formação, tanto no mundo como dentro do catolicismo, assim como devido às críticas externas, legítimas (a não ser que estejam fundadas em falsidades), e internas, menos legítimas, que nos últimos tempos criaram novos estereótipos negativos da Santa Sé, considerada como obscurantista e inimiga da ciência, incapaz de seguir o ritmo dos meios de comunicação".
Para responder a este desafio, Vian explicou que a mídia católica não deve falar um idioma diferente do resto da humanidade. "Precisamos ter a consciência humilde de possuir algo precioso que é preciso fazer resplandecer, pois os cristãos, ainda que não sejam diferentes dos demais seres humanos, são a alma do mundo."
John Thavis, chefe da correspondência da agência Catholic News Service (CNS), agência promovida pela Conferência Episcopal dos Estados Unidos, mostrou, em sua intervenção, a maneira como os jornalistas católicos evoluíram nos EUA nos últimos 20 anos, na hora de enfrentar as notícias de abusos sexuais cometidos pelo clero.
Quando a crise começou, nos anos 90, muitos jornais católicos hesitavam em fazer a cobertura da notícia, mas quando o escândalo alcançou seu cume nos EUA, em 2002, essa hesitação foi superada, já que os próprios jornalistas católicos se sentiram indignados diante das revelações.
Quando o escândalo explodiu na Europa, no começo de 2010, e muitos jornais leigos procuraram envolver Bento XVI, a imprensa católica, no entanto, mostrou como o Papa havia sido "metódico, determinado e paciente" para enfrentar este problema desde os anos 90.
"O que me preocupa é que os comunicadores católicos, com toda a sua perspectiva, contexto e lealdade na questão dos abusos sexuais, não provocaram um impacto para além da sua audiência limitada", confessou Thavis.
Por isso, perguntou aos jornalistas católicos reunidos no congresso: "Como podemos comunicar ao mundo moderno, esse grande mundo, para além das nossas fronteiras eclesiais?".